sexta-feira, 26 de agosto de 2011

DEFEITO DE FABRICA

Com este argumento o profissional da área médica tentou dissuadir Camila da necessidade de um documento que comprovasse sua(s) deficiência(s), o CID (código de identificação da deficiência), dizendo que ela era “normal”, apesar das dificuldades que sempre enfrentou sem desanimar, em seus dezoito anos de vida. A família sempre acompanhando, presente, defendendo e incentivando ajudou a aliviar este desconforto, deu colo e segurança. Com dezoito anos, ficou difícil arrumar emprego. No comércio não era aceita, pois sua voz é trêmula, a dicção exige vontade de ajudar de quem ouve. Segundo uma das inúmeras fonoaudiólogas de sua estória, falta ao seu aparelho fonador parte que permite a elaboração de sons como LH e R Lembra também de ter feito tratamento fonoaudiológico por toda a sua vida, e reforço escolar, desde seus sete anos. Nas indústrias sempre pediam o CID (Lei de Cotas).  Acabou ganhando de tia-parceira a sua avaliação feita por psicóloga e psiquiatra particulares. Identificaram três categorias: falhas de desenvolvimento na fala e linguagem, falhas de leitura – um quadro de dislexia, nunca cuidado, pois não diagnosticado, e área emocional abalada – transtorno ansioso (podendo derivar em pânico, ansiedade ou depressão). Ela faz faculdade hoje, sendo boa aluna, preocupadíssima em manter seu nível de notas, para continuar tendo o direito à bolsa de estudos conquistada. Percebe claramente suas fragilidades, mas encara as mesmas com a mesma calma com que sua família sempre encarou. Finalmente, faz dois anos, chegou à sua estabilidade no trabalho, em que desempenha função de revisora de produtos de polietileno, ajudando novas colegas em seus ajustes. Já aconteceu estremecimento com sua chefia, que cobrava, e cobrava mais agilidade. Camila teve um rompante – “Se eu demorei mais de um ano do que era esperado para falar, e depois disto mais um ano para andar, como é que o Senhor quer que eu seja rápida?”. Funcionou, o chefe recalculou a rota, e ela está feliz no trabalho até hoje, que permite que ela colabore um pouco nas despesas de sua casa, pague seu dentista, sua faculdade (Serviço Social), suas roupas, cremes e xampus, além de dividir com colega a gasolina usada para ir à faculdade. Sabe que sua letra é feia, mas isto não tem remédio. Sabe que não deve usar salto alto, pois seu equilíbrio não permite. É grata à sua família que sempre se organizou a nível de sobrevivência de tal forma que sua mãe a acompanhasse nos reforços e terapias. Camila prova que um ser humano pode ser útil e feliz, mesmo com “defeito de fábrica” Com mais ajuda familiar do que social, no caso.

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