terça-feira, 17 de abril de 2012

"QUERO MAIS" : Serviço de oftalmologia falho para o cuidado do paciente, e para orientar sua familia- a historia de Guilherme

Tenho vinte anos, meu nome é Guilherme.

Minha mãe conta que nasci com seis meses e meio, fiquei quarenta e cinco dias em incubadora, sendo que alertaram meus pais por três vezes neste período quanto à minha pequena chance de sobrevivência, existiam grandes dificuldades com baixa imunidade.

Resisti, mas vírus hospitalar invadiu meus olhos, lesando o músculo responsável pelo controle da pálpebra, e também deve ter interferido em minha acuidade visual. Hoje só consigo enxergar bem de perto, abrindo meus olhos só um pouco. Lembro de que na escola eu precisava colocar a carteira “ao lado” da professora, para procurar acompanhar suas explicações.

Acabei repetindo alguns anos, mas não sei o quanto por ser “relaxado”, ou o quanto por não ter recebido ajuda técnica para minha deficiência na escola. Minha sorte foi ter herdado de meu pai uma grande capacidade de me comunicar e de brincar. Fiz esta característica ser maior do que minha deficiência, depois de ouvir muito “ceguinho”, “japonês” e “zoinho”. No começo chorava muito, depois aprendi a contatar primeiro, a ser simpático e estabelecer ligações. E hoje já sei que se não funcionar com alguém, talvez seja relacionamento em que não vale à pena investir.

Estou fora da escola há três anos, e agora quero voltar, vou fazer supletivo. Já freqüentei instituição especializada para pessoas com deficiência visual, mas no meu caso não consegui estruturar muitas mudanças de vida. Por duas vezes receitaram óculos para mim – não enxergo bem de longe, de perto é bom. Mas não consegui me adaptar aos óculos, o chão parecia dançar embaixo de meus pés, dava muita insegurança. No ponto de ônibus preciso que leiam para mim qual o destino indicado no letreiro. Mas sou bom de futebol, tanto no ataque como na defesa, adoro andar de bicicleta. Gostaria de melhorar minha capacidade de enxergar longe ( não sei se posso) e assim talvez tirar minha carteira de motorista, um grande sonho.

Consegui estudar informática, Windows: Excel  Básico, Open Office, Planilha e Texto, e curso de Contabilidade. Adoro vídeo-game, preciso ficar bem próximo da tela, mas consigo jogar. Já trabalhei como Almoxarife e Auxiliar de Serviços Gerais. Fui dispensado de meu último emprego porque a firma terceirizava serviço para outra, que perdeu concorrência. Gostaria de ter um trabalho em que pudesse fazer cálculos ou de atendimento ao cliente.

Fui à Feira do Emprego da Cidade Jardim e a UADPD vai enviar meu currículo para as empresas parceiras. – “Eu quero mais que isso. Quero o que não vejo. Quero o que não entendo. Quero muito e quero sem fim.” –Fernanda Mello.




Caso real. Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga e diretora da Unidade de Atenção aos Direitos da Pessoa com Deficiência, colaboradora do “O Liberal”

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