segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

F123 - deficientes visuais - finalmente começa o reconhecimento da utilidade da ferramenta

Fonte:http://www.todosnos.unicamp.br:8080/lab/programador-para-a-inclusao-a-partir-das-proprias-dificuldades-sociologo-desenvolve-tecnologia-social-para-sinalizar-o-caminho-

Programador para a inclusão - A partir das próprias dificuldades, sociólogo desenvolve tecnologia social para sinalizar o caminho da inserção dos deficientes visuais.

Vítima de uma doença degenerativa que o levou à cegueira na adolescência, Fernando Botelho, 42, teve acesso a todos os equipamentos de ponta para estudar e graduar-se em sociologia nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, criou o F123, negócio social que usa um software livre e torna mais simples a inclusão digital, social e profissional de pessoas cegas ou com baixa visão. O programa equivale a 8% do preço do software para deficientes visuais mais vendido no mercado e beneficiou mais de 700 pessoas.
Programador para a inclusão - A partir das próprias dificuldades, sociólogo desenvolve tecnologia social para sinalizar o caminho da inserção dos deficientes visuais.
Fernando Henrique Frederico Botelho, 42, administrador, casado Organização: F123 - Ano de fundação: 2010 - www.f123.org/ *dados de 2012*
PAULA LAGO, ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
 “Andar no escuro é assustador –no começo”, diz Fernando Botelho, 42, que perdeu totalmente a visão ainda na adolescência. Mas a deficiência não o impediu de ter uma trajetória ascendente.
 Formado em sociologia na Universidade Cornell (EUA) e com mestrado em relações internacionais na Universidade de Georgetown (EUA), ele foi consultor da Unctad, agência das Nações Unidas em Genebra, e é fluente em inglês e espanhol.
 Seu passaporte também impressiona –já morou nos EUA, na Argentina, no Chile, na Espanha, na França, nas ilhas Cayman e na Suíça. 
Até se estabelecer em Curitiba, há cinco anos, com Flávia de Paula, sua mulher, nunca tinha vivido além de quatro anos em uma cidade. 
Seu problema de visão começou aos quatro anos, quando a mãe percebeu que ele tinha dificuldades para encontrar os brinquedos, mas o diagnóstico de retinose pigmentar só foi dado aos nove. Para reverter o quadro da doença, sua família recorreu até a tratamentos experimentais no exterior. A cura não veio, mas, com o apoio dos pais, Fernando teve acesso a equipamentos de ponta que amenizaram os danos causados pela falta de visão.

COMPETITIVO

Foi então que decidiu estudar sozinho nos EUA. Queria “ser competitivo em uma área que não tivesse a ver com cegueira para ser reconhecido como profissional, não como cego profissional”.
 Estudou pesado, ficou popular, foi disputado para dançar no baile de formatura e ainda hoje tem contato com os amigos da universidade. Tudo isso para mostrar que não era “o ceguinho”.
 Essa briga contra o estereótipo do deficiente fez ele se expor a todo tipo de situação e lhe rendeu muitos casos saborosos e lembranças difíceis. Em 2001, quando morava em Nova York, estava só na rua, perto do World Trade Center, no dia 11 de setembro mais sombrio da história.
 Sua descrição do atentado, porém, é diferente daquela a que estamos acostumados: ele diz que sentia pisar em cinzas e em papéis nas ruas, que havia um silêncio incomum e um cheiro fortíssimo de queimado.

MEDOS

Fernando é obstinado naquilo que traça como meta. Teimoso e sonhador, parece não ter medo de nada. Aliás, de quase nada: nos anos em que viveu no exterior, tudo o que mais temia era ter de voltar a morar no Brasil.
 “Eu sabia que tinha potencial, mas que não teria tantas chances aqui, na época. Voltar para ficar revelando filme em quarto escuro ou fazendo vassoura?” 
O medo se transformou em oportunidade quando o casal resolveu encarar nova mudança em 2007.
 Fernando concluiu que sua atividade na Suíça não o recompensava mais emocionalmente e que era hora de vir para o Brasil. “Eu tinha a percepção de que os cegos poderiam se desenvolver se tivessem tecnologia. O problema era o preço da tecnologia.” 
Daí veio o F123, um sistema voltado para os deficientes visuais que utiliza software livre, custa menos do que os oferecidos pela concorrência e ainda possibilita aos programadores a chance de melhorar o produto.
 “Vi que, se me concentrasse na área da cegueira, poderia fazer a diferença. E isso por minha experiência anterior, minha formação. Descobri que não tinha mais vergonha, que não estava diminuído por trabalhar nessa área.”

FASE DOS POR QUÊS

Com o nascimento do projeto, ele atraiu para o campo da acessibilidade a mulher, com quem divide há 14 anos variadas experiências nas andanças pelo mundo e hoje, também, o escritório: ele é a parte desenvolvedora, idealizadora. Ela, dentista, atualmente conduz toda a parte administrativa do negócio.
 Pelo que ambos dizem, não é ruim conviver por tanto tempo: “A gente não briga e aprendeu a confiar um no outro”, afirma Flávia.
 A irmã, Ana Botelho, destaca entre as características do empreendedor “sua incansável vontade de aprender mais em tudo e a incrível teimosia de não desistir frente a uma negação ou obstáculo”. O pai, José Botelho, costuma dizer que o filho “não saiu da fase dos por quês”.
 Os amigos o definem como alguém especial. “Ele é altamente empreendedor e, ao mesmo tempo, dotado de consciência social”, afirma Lukas Stückling, com quem trabalhou na Suíça e que hoje é conselheiro do projeto F123.
 Fernando conta que sempre teve duas obsessões: provar ao mundo do que é capaz e ser útil a esse mesmo mundo. Porque andar no escuro, afinal de contas, é só uma forma diferente de andar.

Conheça mais sobre o F123


Contexto de atuaçãoInovaçãoSustentabilidadeImpacto socialAlcance e abrangênciaReplicabilidadeMétodos e estratégiasProgramas e atividades
Dados do último Censo, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2010, mostram que a deficiência visual é a que mais atinge os brasileiros (23,9%), seguida pela deficiência física/motora (7%) e pela auditiva (5,1%).
 Cerca de 6,5 milhões de pessoas afirmam ter problemas de baixa visão, e mais de 506 mil declararam que são cegas. Esses números correspondem a aproximadamente 3,5% da população brasileira.
 Em âmbito mundial, a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que existam 180 milhões de deficientes visuais, dentre os quais 45 milhões são cegos e o restante do grupo apresenta algum tipo de visão subnormal (nome técnico dado a baixa visão).
 A maioria dos casos de cegueira ocorre nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. A previsão é que o número de casos suba para 75 milhões em 2020, caso não sejam tomadas medidas preventivas adequadas.
 A OMS também mostra que o custo econômico da cegueira decorrente da incapacidade da maior parte desse grupo em exercer atividades e serviços para a sociedade é estimado em US$ 28 bilhões por ano, levando em conta o desperdício de recursos e investimentos não realizados.
 No tocante a educação, os dados são preocupantes. Voltando ao censo de 2010, a taxa de alfabetização de pessoas de 15 anos ou mais entre as que têm deficiência é de 81,7%, menor do que na população total da mesma faixa etária, que é de 90,6%.
 O maior desnível está no grau de escolaridade: 61,1% da população com 15 anos ou mais com deficiência não têm instrução ou têm apenas o fundamental incompleto. Esse porcentual cai 38,2% para as pessoas sem deficiência.
 A baixa escolaridade é um dos principais entraves na inclusão no mercado de trabalho de profissionais com qualquer tipo de deficiência.
 Ainda de acordo com o censo, dos 44 milhões de deficientes que estão em idade ativa, 53,8% estão desocupados ou fora do mercado. A população que está no mercado de trabalho com pelo menos uma deficiência representava 23,6% (20,3 milhões) do total de ocupados (86,3 milhões) –apenas 40,2% deles possuem carteira de trabalho assinada.
 De acordo com pesquisa realizada pelo site I.Social, empresa especializada em inclusão de deficientes no mercado, apesar do avanço significativo com a Lei de Cotas 8.213/91, as empresas preferem contratar pessoas com deficiências “mais leves”, sendo a ordem de preferência: deficiência física (71%), deficiência auditiva (20,3%), visual (7,3%), múltipla (0,9%) e intelectual (0,5%).
 Na avaliação de especialistas, o problema se agrava no caso dos deficientes visuais. A percepção de empregadores de que os cegos não são capazes de usar equipamentos eficientemente e a necessidade de investir em instalações especiais –que significam alto custo– são entraves, conforme pesquisa da OIT (Organização Mundial do Trabalho).
 É nesse campo que o F123 pode trazer importante contribuição para governos, empresas e Terceiro Setor, democratizando o acesso à tecnologia para deficientes visuais, quebrando o ciclo de dependência e vulnerabilidade. O programa mais vendido comercialmente custa, no mínimo, 12 vezes mais. Apenas o leitor de tela (que transforma os textos em áudio) chega a custar três vezes o valor de um computador convencional.
 A facilidade do uso do programa F123, que inclui todo o sistema operacional, aplicativos e tecnologias assistidas (leitor de tela e teclado virtual) para navegar na internet, mandar e-mails e trabalhar em documentos e planilhas eletrônicas, além da portabilidade em pendrives, agrega mais valor ao potencial transformador da iniciativa.

Fonte/assista ao vídeo: 

http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/finalistas/2012-fernando-botelho.shtml



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